segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Esteira e rua: a grande diferença

É comum as pessoas que treinam corridas e caminhadas comentarem a respeito das vantagens e desvantagens de um treino na rua, comparado ao treino na esteira. Por esse motivo, resolvi citar alguns argumentos básicos, outros mais aprofundados e por último, a grande diferença entre as duas.

Vamos começar pela praticidade. Se você não quer tomar o sol do meio-dia, ou o vento congelante do inverno, ou ainda, não quer se molhar nas chuvas de verão, suba na esteira. Se você não tem tempo para ir até o parque, ou até o bairro com ruas mais planas que gosta de treinar, ou quer fazer um treino controlando sua velocidade exata sem precisar do sinal do GPS, suba na esteira. Se quiser treinar e ao mesmo tempo acompanhar visualmente o jogo do seu time favorito, ou não quiser sujar os seus tênis novos no primeiro treino dele, suba na esteira.

Agora, se quiser mudança de paisagens, apreciar o visual externo, escolher seu próprio percurso… Não suba na esteira. Fora dela, você pode escolher terrenos diferentes (asfalto, terra batida, grama, concreto, etc.), treinar curvas (poucos pensam nisso) e descidas (são raras as esteiras que possuem mecanismo para simular descidas), além de conseguir misturar tudo isso ao mesmo tempo: descidas com curvas em cima da grama, por exemplo.

Em relação ao impacto gerado no corpo, depende muito do modelo da esteira, do modo como a pessoa corre ou anda e do calçado. De maneira geral, as esteiras possuem um mecanismo próprio de absorção de impacto: uma placa firme e comprida por onde a borracha desliza. Esta placa recebe as nossas pisadas e, por ser feita de um material flexível, ela verga sutilmente para baixo, reduzindo levemente o impacto. Alguns modelos de esteiras possuem um sistema de ajuste de absorção de impacto, onde você regula a intensidade que o material verga para baixo (quanto maior, mais impacto ela absorverá). Fora da esteira, vai depender do terreno, mas de modo geral, podemos dizer que o concreto é o piso que menos absorve o impacto, seguido pelo asfalto, depois pela terra batida, seguida pela grama e por último, na areia fofa. Por estes motivos é que pessoas com problemas articulares associados à redução do espaço entre os ossos são orientadas a caminharem na esteira e de preferência utilizando tênis com amortecedor.

Além do impacto, o que torna a esteira relativamente mais confortável é a constância das características do terreno. O piso não muda, não há buracos, nem pedras, nem raízes de árvores ou azulejos soltos, ele não escorrega e permanece sempre igual. Isso em parte é ruim, pois o sujeito que treina apenas na esteira está mais sujeito a lesões quando decidir correr uma vez fora dela, nas ruas. Quando treinamos em superfícies irregulares, treinamos nossos ossos, músculos, tendões e ligamentos para se ajustarem, rapidamente, às mudanças do piso, se moldando de forma específica e adaptável, constantemente. Isto faz com que o corpo esteja sempre alerta e mais protegido, quando comparado àquele que não é tão exigido.

Mas a principal diferença é outra. Quando corremos na rua, o chão é firme e está parado. Com isso, podemos nos deslocar para frente, empurrando o chão para trás (espero que faça sentido). Na esteira, o movimento é idêntico, mas o comando que mandamos ao nosso cérebro é diferente: o piso se movimenta para trás e, como consequência, precisamos nos movimentar para frente. É como se no primeiro caso tivéssemos controle total da situação, usando o chão como queremos e no segundo caso (na esteira), dependêssemos totalmente do chão, necessitando correr atrás dele, do jeito que ele quer. Fisicamente as diferenças são muito tênues, principalmente em termos de condicionamento e desempenho. A grande diferença está no trabalho que fazemos com nosso sistema nervoso. Uma vez que os comandos neurológicos são diferentes, nosso cérebro é estimulado de uma forma diferente, realizando novas conexões neurais.

Para quem não sabe uma das melhores maneiras de prevenir doenças neurológicas é realizando estas conexões neurais diferentes, constantemente. Por isso, é importante variar de vez em quando o terreno do treino, seja na grama, na esteira, na descida, na praia ou na montanha. Assim, você prepara seu corpo para qualquer situação, reduzindo as chances de se machucar e ainda afasta as chances de ter um Alzheimer.

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